Friday, September 21, 2012

Prevenção em psiquiatria


Prevenção em psiquiatria
Estudos apontam a importância do acompanhamento intensivo para a prevenção de recaídas e a recuperação da capacidade funcional e social do paciente após a primeira manifestação da psicose
A maioria dos transtornos mais prevalentes inicia-se na adolescência e no começo da vida adulta, com importantes implicações para estratégias de intervenção e modelos de atenção

Por Naylora Troster

Entre os estudos recentes destacamos o tema da prevenção de episódios psicóticos. Selecionamos a recente revisão de estudos de Amminger e colaboradores, que confirma como a maioria dos transtornos mentais mais prevalentes se inicia na adolescência e começo da vida adulta, com importantes implicações para estratégias de intervenção e modelos de atenção. Um estudo italiano interessante, de avaliação do conhecimento de professores secundários sobre psicoses, demonstra, ainda, como esses profissionais podem desempenhar papel importante na detecção precoce e na prevenção de psicoses. A valiosa contribuição de pesquisadores brasileiros na psiquiatria também é apresentada na seção. O artigo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) avalia o impacto de um curso extracurricular de psiquiatria do desenvolvimento na graduação. O trabalho de docentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) avalia a efetividade da entrevista motivacional breve e brochura educativa, aplicadas em prontos-socorros, na redução do abuso e problemas relacionados ao álcool entre os jovens.


Idade de início e tratamento oportuno de transtornos mentais e uso de substância: implicações para estratégias de intervenção e modelos de atenção
McGorry PD, Purcell R, Goldstone S, Amminger GP.
Curr Opin Psychiatry. 2011 Jul;24(4):301-6.

OBJETIVO: Realizar uma revisão de estudos recentes sobre a idade de início dos principais transtornos mentais, com foco em perspectivas de prevenção e intervenção precoce.

ACHADOS: Os estudos revisados confirmam relatos anteriores sobre a idade de início dos principais transtornos mentais. Enquanto os transtornos de conduta e alguns transtornos de ansiedade se iniciam na infância, a maioria dos transtornos de ansiedade, do humor e por uso de substância, com prevalência elevada, aparece durante a adolescência e no início da vida adulta, assim como os transtornos psicóticos. A idade de início precoce está relacionada a duração prolongada de doença mental não tratada e pior evolução clínica e funcional.

RESUMO: Embora a maioria dos transtornos mentais se inicie nas três primeiras décadas de vida, o tratamento efetivo, caracteristicamente, só é introduzido alguns anos mais tarde. Apesar da crescente evidência sugestiva de que a intervenção precoce reduz a gravidade e/ou a persistência do transtorno inicial ou primário e evita transtornos secundários, uma pesquisa adicional é necessária sobre o tratamento apropriado nesses estágios iniciais e seus efeitos de longo prazo, bem como sobre o adequado planejamento de serviços para indivíduos em estágios iniciais de doença mental. Isso significa não apenas o fortalecimento dos sistemas existentes, mas também a construção de novas linhas de cuidado com jovens em transição para a idade adulta.

Avaliação do conhecimento de professores de nível secundário sobre psicoses: uma contribuição à detecção precoce
Masillo A, Monducci E, Pucci D, Telesforo L, Battaglia C, Carlotto A, et al.
Early Interv Psychiatry. 2011 Sep 23.


OBJETIVO: Avaliar o conhecimento de professores de escola secundária sobre psicoses e seu nível de interesse por esse tópico, em razão do papel fundamental que podem desempenhar na detecção precoce desse tipo de transtorno.

MÉTODO: 268 professores de escolas secundárias, localizadas em dois dos cinco distritos de saúde de Roma (Azienda Sanitaria Locale E e A), foram solicitados a responder à versão italiana do questionário Knowledge and Experience of Social Emotional Difficulties Among Young People (Esperienza e Conoscenza delle Difficolto Sociali ed Emotive dei Giovani), que investiga diagnóstico, idade de início, etiologia, prognóstico e tratamento de psicoses. Verificou-se também sua experiência com alunos com quadros compatíveis com o diagnóstico de psicose.

RESULTADOS: A maioria dos professores foi capaz de reconhecer sintomas psicóticos em uma vinheta (relato de caso). Aproximadamente 25% dos professores relataram contato com aluno que aparentava possíveis sintomas de psicose. Os mesmos mestres revelaram ter pouca informação sobre serviços psiquiátricos para jovens, disponíveis na comunidade.

CONCLUSÕES: Este estudo demonstra que os professores de nível secundário podem desempenhar um papel importante em estratégias de detecção precoce e prevenção de psicoses. Os professores revelaram ter bastante interesse na aquisição de conhecimento mais profundo sobre indícios precoces de psicose e na cooperação de um especialista em saúde mental para orientação e suporte, em casos de alunos com transtornos mentais graves.

Educação em psiquiatria do desenvolvimento: resultados preliminares em estudantes de graduação no Brasil
Moraes EM, Scivoletto S, Fossaluza V, Vieira JE, Miguel EC, Alvarenga PG.
Rev Bras Psiquiatr. 2011 Sep;33(3):287-91.


CONTEXTO: Apesar de vital para o reconhecimento precoce, tratamento e prevenção de transtornos mentais, a psiquiatria do desenvolvimento ainda não foi incorporada à grade curricular ou prática psiquiátrica no Brasil.

OBJETIVO: Avaliar o impacto de um curso extracurricular em psiquiatria, do desenvolvimento na graduação e a viabilidade de expansão de políticas de ensino em psiquiatria do desenvolvimento no Brasil.

MÉTODO: Estudantes de graduação em saúde responderam a um questionário composto de 12 questões de múltipla escolha randomizadas para avaliação de conhecimento e de questões destinadas à avaliação de atitudes, antes e após assistirem a um curso de 12 horas, durante quatro dias, sobre fundamentos da psiquiatria do desenvolvimento. A análise estatística incluiu testes não paramétricos de variáveis categóricas ordinais.

RESULTADOS: Em uma amostra final composta de 43 estudantes, verificou-se um desempenho significativamente superior no pós-teste (65,0% vs. 39,9%; p < 0,0001). Atitudes positivas em relação ao curso relacionaram-se a um melhor desempenho. Estudantes do 3º e do 4º ano de medicina apresentaram resultados superiores quando comparados aos do 1º e do 2º ano de medicina e aos estudantes de outras áreas da saúde. Constatou-se melhor desempenho no sexo masculino.

CONCLUSÃO: Este estudo encoraja políticas de ensino em psiquiatria do desenvolvimento que poderão ter implicações clínicas diretas.

Intervenção motivacional breve e brochura educacional em pronto-socorro para adolescentes e adultos jovens com problemas relacionados ao álcool: um ensaio clínico simples-cego randomizado
Segatto ML, Andreoni S, Silva RS, Diehl A, Pinsky I.
Rev Bras Psiquiatr. [online]. Mar 11, 2011.


OBJETIVO: Avaliar a efetividade da entrevista motivacional breve e de uma brochura educativa aplicadas em prontos-socorros para reduzir o abuso e problemas relacionados ao álcool entre os jovens.

MÉTODO: Um ensaio clínico randomizado simples-cego com três meses de seguimento foi realizado em três prontos-socorros, de outubro de 2004 a novembro de 2005, com indivíduos de 16 a 25 anos tratados de eventos relacionados ao álcool até seis horas após o consumo. Dados sociodemográficos, quantidade, frequência e consequências negativas, motivação para mudanças de hábitos e percepção dos riscos para o consumo de álcool foram avaliados. A análise estatística foi realizada em indivíduos que completaram o seguimento. Modelo de ANCOVA foi utilizado para analisar a diferença entre os grupos de intervenção, com nível de significância estatística α = 5% e intervalo de confiança (IC) de 95%.

RESULTADOS: 186 indivíduos formaram a amostra inicial, sendo n = 175 incluídos e randomizados para brochura educativa (n = 88) ou grupo entrevista motivacional breve (n = 87). O seguimento de avaliação foi realizado em 85,2% da amostra. Não foi observada diferença significativa entre os grupos. No entanto, uma redução significativa (p < 0,01) em problemas relacionados ao abuso de álcool foi encontrada em ambos os grupos.

CONCLUSÃO: Nesta amostra, a redução do abuso de álcool e problemas relacionados foi observada. Dados preliminares indicam que os ensaios clínicos controlados com entrevista motivacional breve, brochura educativa e não intervenção deveriam ser de futuro interesse entre a população adolescente brasileira.

Condições crônicas e depressão maior em adultos mais velhos residentes na comunidadeFiest KM, Currie SR, Williams JV, Wang J.
J Affect Disord. 2011 Jun;131(1-3):172-8.


OBJETIVOS: Estimar (1) a prevalência de condições médicas de longa duração e de depressão maior comórbida, e (2) as associações entre depressão maior e várias condições médicas crônicas em uma população geral de adultos mais velhos (com mais de 50 anos de idade) e em indivíduos tradicionalmente classificados como seniores (com idade igual ou superior que 65 anos).

MÉTODOS: Dados do Canadian Community Health Survey - Mental Health and Wellbeing (CCHS-1.2) foram analisados e indivíduos não institucionalizados, com idade superior a 15 anos e residentes em dez províncias canadenses, foram selecionados. A amostra total do CCHS-1.2 consistia em 36.894 indivíduos. As amostras para as principais análises deste estudo se restringiram a indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos (n = 15.591). Condições crônicas de saúde foram avaliadas por escala de autoavaliação para diagnóstico médico. O inventário The World Mental Health-Composite Diagnostic Interview(CIDI) foi aplicado para avaliação de episódios de depressão maior, com base em critérios do DSM-IV.

RESULTADOS: A prevalência global de ao menos uma condição crônica nos indivíduos com mais de 50 anos foi de 82,4%, comparada a 62,0% naqueles com menos de 50 anos. A prevalência de um episódio de depressão maior na amostra acima de 50 anos, com uma condição crônica, foi de 3,7% - comparada a 1% dos indivíduos sem uma condição clínica de longa duração. As três principais condições crônicas de saúde em seniores com idade igual ou superior a 65 anos foram artrite/ reumatismo, hipertensão arterial e problemas de coluna. Síndrome da fadiga crônica, fibromialgia e enxaqueca representaram a maior comorbidade com depressão maior na população sênior.

LIMITAÇÕES: O uso de dados autorrelatados em condições crônicas de saúde, potencial superposição de diagnósticos entre condições e a impossibilidade de inferências causais, em razão da natureza transversal da análise, são limitações deste estudo.

CONCLUSÕES: O estudo detectou diferenças entre taxas de condições crônicas e depressão maior na população geral, em adultos mais velhos e em idosos. Pesquisa adicional é necessária para delinear a direção de tais relações em idosos. Medidas de prevenções primária e secundária devem visar idosos que apresentem sintomas depressivos ou condições de saúde crônicas altamente prevalentes.

Revista Pesquisa Médica Especial - NeuroCiências - Número 1 - 2012

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