Friday, September 21, 2012

Eficácia e segurança do citalopram no paciente adulto jovem com TOC


Eficácia e segurança do citalopram no paciente adulto jovem com TOC
O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um transtorno frequente (afeta 2% da população), e seu início tende a ser na infância ou na adolescência.
Marcos T. Mercadante
Professor adjunto do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) do Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM CRM-SP 47.918

O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um transtorno frequente (afeta 2% da população), e seu início tende a ser na infância ou na adolescência. Por vezes, não é fácil diagnosticar o TOC na infância, na adolescência e no adulto jovem, pois os sintomas ficam "em segredo". Frequentemente os sintomas são percebidos indiretamente, por exemplo, pelo surgimento de ferimentos nas mãos, pela lavagem excessiva, pelo aumento do tempo gasto no banheiro, pela diminuição da produtividade etc.  Entre as diversas hipóteses patofisiológicas, o desequilíbrio entre dois compartimentos estriatais (matriossoma e estriossoma) poderia ser o responsável pela desregulação dos circuitos corticoestriatais, responsáveis pela persistência das ideias obsessivas e pelos comportamentos compulsivos1.

É interessante que para o tratamento do TOC tem-se admitido que a modulação do sistema serotoninérgico é pré-requisito para uma resposta adequada, uma vez que drogas que atuam em outros sistemas como o noradrenérgico não demonstram a mesma eficácia2. Comercializado desde a década de 1990, o citalopram é o mais seletivo dos inibidores seletivos de recaptura de serotonina (ISRSs), que agem inibindo o transporte da serotonina (5-HT) na fenda sináptica. O citalopram, assim como os outros ISRSs, é considerado medicamento de primeira escolha para o TOC, sendo aconselhável pelo menos um ano a dois anos de tratamento medicamentoso3. Os resultados de alguns estudos duplo-cegos e controlados sugerem que o citalopram é seguro para ser utilizado em jovens4 e tão eficaz quanto a fluoxetina no controle dos sintomas obsessivos compulsivos5.

Entre os ISRSs, o citalopram tem o menor efeito sobre o sistema dopaminérgico e noradrenérgico e praticamente nenhum efeito sobre os receptores de acetilcolina, histamina, GABA etc. O citalopram é metabolizado por mais de uma enzima do sistema citocromo, o que diminui a chance de alterações em sua metabolização e resulta em um perfil de interação com outras drogas bastante seguro6. Além de ter um perfil seguro de interação, o citalopram mostra, também, um perfil seguro quanto à superdosagem. Existe apenas um caso de óbito após a ingestão de 3.900 mg de citalopram, quantidade suficiente para seis meses de tratamento. Vários são os relatos de casos com ingestão de cinco a cem vezes a dose recomendada, mas que foram tratados com segurança7. Essas duas características relacionadas ao metabolismo e a superdosagem são bastantes úteis quando a população-alvo é de jovens que tendem a ter um comportamento por vezes menos responsável e mais impulsivo.

No geral, o citalopram é bem tolerado, sendo os efeitos colaterais mais frequentes náusea, boca seca, sudorese e sonolência; apresentando menor impacto no ganho de peso e nos efeitos relativos à anorgasmia e retardo da ejaculação quando comparado a outros ISRSs. Dessa maneira, pode-se considerar o citalopram como mais uma opção para o arsenal terapêutico em jovens portadores do TOC.

Referências1. Leckman JF, Riddle MA. Tourette's syndrome: when habit-forming systems form habits of their own? Neuron. 2000;28(2):349-54.
2. Leonard HL, Rapoport JL. Pharmacotherapy of childhood obsessive-compulsive disorder. Psychiatr Clin North Am. 1989;12(4):963-70.
3. Greist JH, Bandelow B, Hollander E, Marazziti D, Montgomery SA, Nutt DJ et al. WCA recommendations for the long-term treatment of obsessive-compulsive disorder in adults. CNS Spectr. 2003;(8 Suppl 1):7-16.
4. Grados MA, Riddle MA. Pharmacological treatment of childhood obsessive-compulsive disorder: from theory to practice. J Clin Child Psychol. 2001;30(1):67-79.
5. Alaghband-Rad J, Hakimshooshtary M. A randomized controlled clinical trial of citalopram versus fluoxetine in children and adolescents with obsessive-compulsive disorder (OCD). Eur Child Adolesc Psychiatry. 2009;18(3):131-5. Epub 2009 Feb 3.
6. Brøsen K, Naranjo CA. Review of pharmacokinetic and pharmacodynamic interaction studies with citalopram. Eur Neuropsychopharmacol. 2001;11(4):275-83.
7. Pollock BG. Citalopram: a comprehensive review. Expert Opin Pharmacother. 2001;2(4):681-98.

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